Espera que ela vem
Esperando continua observando o dia nascer. Uma pequena velha para de seu lado e puxa conversa, ele ouve tudo de longe. Ela está para chegar. “Ela vai demorar?” pergunta a velha, “O que ela é sua?”, “De onde ela vem?”, “Qual o seu nome?”. As palavras da velha ao seu lado são escutadas de tão longe, mas o trem que nem dá sinal de vida já pode ser escutado num ritmo exatamente igual às batidas de seu coração.
Esperando que a velha vá embora logo, ele continua sendo forte para evitá-la, mas ela insiste mais ainda. Qualquer que seja o bom senso de uma pessoa, não demonstra nada, nem alegria, nem dor, nem tédio, muito menos raiva. Emudecido olha para os trilhos. Os trilhos por onde já passou, por onde já viu diversas faces, e hoje só pode esperar que seu destino pare exatamente nessa estação, de portas abertas bem em sua direção. Pensa nas paisagens que já viu, e quer ver muitas mais.
Esperando que seja a hora certa, olha para o relógio que está alguns minutos adiantados e pensa já ser a hora. Uma buzina de longe faz a voz da velha calar-se dentro de si. Espera agora que seja esse o trem que a traz. E lembra-se das perguntas não respondidas que a velha ainda insistia em fazer. Tem que ser esse, não pode ser outro. Olha pra trás, uma velha pequena, com seu guarda chuvas e sua toca de crochê. Deixa a emoção falar mais alto.
“Está chegando, é minha companheira, vem do meu coração e seu nome é esperança.”