quarta-feira, 30 de abril de 2008

Espera que ela vem

Esperando sentado enquanto ele não chega, assiste a madrugada e tudo parece esperançoso. O sol, de leve nas nuvens, dá a impressão de que vai mudar o céu de cor. Nada esperançosos são os olhares das pessoas que descem dos trens que vão chegando, ainda remelentas e amassadas. A elas, cabe o conformismo de mais um dia como o de ontem. Algumas, evitando um suposto pedido de esmola, mal olham a família de mendigos nômades, aconchegada debaixo da cobertura da estação. Por isso mesmo os sem-teto nem se dão ao luxo de acordar, afinal, não precisam pegar trem nenhum, nem ir a lugar algum.

Esperando continua observando o dia nascer. Uma pequena velha para de seu lado e puxa conversa, ele ouve tudo de longe. Ela está para chegar. “Ela vai demorar?” pergunta a velha, “O que ela é sua?”, “De onde ela vem?”, “Qual o seu nome?”. As palavras da velha ao seu lado são escutadas de tão longe, mas o trem que nem dá sinal de vida já pode ser escutado num ritmo exatamente igual às batidas de seu coração.

Esperando que a velha vá embora logo, ele continua sendo forte para evitá-la, mas ela insiste mais ainda. Qualquer que seja o bom senso de uma pessoa, não demonstra nada, nem alegria, nem dor, nem tédio, muito menos raiva. Emudecido olha para os trilhos. Os trilhos por onde já passou, por onde já viu diversas faces, e hoje só pode esperar que seu destino pare exatamente nessa estação, de portas abertas bem em sua direção. Pensa nas paisagens que já viu, e quer ver muitas mais.

Esperando que seja a hora certa, olha para o relógio que está alguns minutos adiantados e pensa já ser a hora. Uma buzina de longe faz a voz da velha calar-se dentro de si. Espera agora que seja esse o trem que a traz. E lembra-se das perguntas não respondidas que a velha ainda insistia em fazer. Tem que ser esse, não pode ser outro. Olha pra trás, uma velha pequena, com seu guarda chuvas e sua toca de crochê. Deixa a emoção falar mais alto.

“Está chegando, é minha companheira, vem do meu coração e seu nome é esperança.”

terça-feira, 8 de abril de 2008

Não Sei Mais O Que E Assim Por Diante.

Pra quem estiver interessado em loucura

Seja lá de quem for

Posso falar um pouco da minha...

Me comporto feito idiota quando caio no porre

Tem dias que não tenho nada pra fazer além de beber

E esperar que algo aconteça

Um incêndio ou o fim do mundo, perder o medo de morrer.

Dissequei o Direito e a História

O Sexo e a Poesia

A Medicina e o Romance

Não sei mais o que

E assim por diante.

Continuar alimentando as minhas neuroses

É o que eu tenho pra me defender

Sentei num baú, debaixo da chuva...

Pra pensar...

Esperar a chuva passar...

Era uma chuva quente

Que secava assim que batia no corpo

Terminei meu conhaque

E saí ao encontro de seus braços

Seus beijos

Seus amassos...

Talvez o melhor seja esquecer

Mas ainda assim prefiro arriscar

Me perder

Desvairar

Prefiro viver.

Nada de despertador despertando as 6:00

Não vou me enfronhar no meio de uma humanidade falsa

Nem morrer achando que a diferença entre viver bem ou mal

Depende apenas de um pouco de sorte...

Não vou me conformar

Nem me arrepender

Tenho a sorte de ter você

E não é pouca...

O pouco não é muito

O muito ainda é pouco

Pra quem quer viver todo dia

Pra quem quer sentir como um louco.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Menina

Vem cá menina, dá um abraço. Vem pra onde ninguém mais pode ir. Por entre meus braços abertos e minhas mãos juntas o lugar é só seu. Vem pra onde nossos devaneios, juntos, são tão possíveis.

Vem cá pequena, eu fico no banco de cá, você deita no meu peito, te faço carinho no cabelo, no rosto, te beijo, te abraço, te faço ninar. Ou quem sabe a gente inverte a coisa toda. Quem sabe o colo é seu, e eu me deito na certeza de que vou acordar a ver seus olhos.

Vem cá morena, pra te deixar ser livre. Pra te amar de longe, pra sentir amor de qualquer lugar do mundo. Vai lá longe, colha todas as flores que puder, pra quando voltar trazer companhia no seu buquê. Seu buquê que é todo saudade. Vem lá de longe para aqui perto, num abraço que faz querer estar sempre longe para senti-lo novamente.

Vamos nós pro nosso caminho, que sei lá onde vai dar. Você também não sabe. Mas é bom assim. A gente se preocupa mais em plantar as flores que você me traz lá de longe pelos jardins por toda a estrada.