quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Criançada

Ainda brinco de pés no chão
De fazer pose em frente ao espelho
De desenhar o contorno da minha mão.
Ainda canto cantigas de roda
Faço manha pra ter atenção
Ainda arrisco pular corda.
Nem ligo pro aviso ‘não toque nos filhotes’
Brinco na chuva
Besteiras = pacotes.
Ainda moro nas minhas casas de lego
Brinco com minha sombra na parede
Mordida no sorvete eu nego.
Gosto de assustar pombos
Tocar campainhas
De imitar os outros.
Mexo no cabelo das minhas amigas
Uso as pulseiras da minha mãe
Passo horas vendo fotos antigas.
Planto feijão no algodão
Sinto saudade de vaga-lume
De pular o portão.
Não aprendi a nadar
Nem tocar violão.
Ainda sonho com o ‘Faber-Castell 72 cores’
Tenho medo de escuro
De discos voadores.
Assisto desenho
Peço colo
Adoro abraço
Ainda choro.
Gosto de leite com chocolate
De brigadeiro no pão
Gosto de pipoca doce
E de fazer bolhas de sabão
Ainda brinco de morder
Ainda penso ‘quando eu crescer’
Ainda to descobrindo a literatura
Ainda tenho medo de altura.
E apesar disso tudo
Gosto de ser gente grande
Gosto do beijo
Do meu amor
Da vida corrida e bagunçada
Da cervejinha com a criançada.